Oeiras Plastic Valley

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Enfeitar as ruas com plantas de plástico é a nova moda no Valley. Não são seres vivos, não crescem, não fazem fotossíntese, não abrigam nem alimentam insetos, não são polinizadas, não nos dão nenhum dos inúmeros benefícios que as plantas verdadeiras proporcionam; apenas se degradam e tornam rapidamente lixo. Lixo plástico. Aquele que já está a encher o oceano e a causar tantos problemas nos ecossistemas marinhos e não só.

Uma autarquia colocar flores de plástico nas suas ruas demonstra não só desprezo pelos sistemas naturais de que dependemos e fazemos parte, como revela também uma visão da natureza completamente artificial. Como se a natureza não tivesse qualquer valor ecológico, pelos serviços que nos presta, mas apenas um valor cosmético.

As florzinhas de plástico são o retrato de uma gestão autárquica que apregoa ter o maior índice de espaços verdes tratados por habitante na Europa (o que quer que isso queira dizer) e que despreza tudo o que são espaços naturais. Uma gestão autárquica que faz parques relvados onde nem sequer se pode levar um lanche, jardins com portões tantas vezes fechados, podas radicais e abates de árvores saudáveis, projetos imobiliários para a Serra de Carnaxide e empreendimentos em leito de cheia.

Uma gestão autárquica que tem vindo a ocupar o território cada vez com mais construção, estradas, rotundas, viadutos, sem ter atenção à criação de espaços pedonais, ciclovias, hortas e outras zonas verdes – bosques, prados e áreas de lazer – que permitam aos munícipes e visitantes usufruir dos benefícios do contacto com a natureza.

As florzinhas de plástico são a cereja em cima do bolo, a arte pública plantada no meio da rotunda para ser apreciada através da janela do automóvel particular. Darem-nos um vislumbre de cor, de simulacro de natureza no meio do betão, como se fosse uma enorme benesse, quando na realidade só vai contribuir para a degradação do ambiente em que vivemos, é não perceber nada de sustentabilidade, nem de qualidade de vida. Nem do momento que vivemos e dos principais desafios da atualidade.

Quando são cada vez mais urgentes medidas de mitigação e adaptação às alterações climáticas e políticas públicas promotoras de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, quando é cada vez mais urgente planear as cidades para serem mais inteligentes e amigáveis, com mais espaço para as pessoas,  passeios largos e ciclovias, áreas verdes e zonas de estar, temos em Oeiras a política do betão, do viaduto com iluminação cénica e das florzinhas de plástico (e ainda está para ser erguido o obelisco de 600 mil euros com ponta dourada de onde sai um raio laser verde), para compor um ramalhete que simula modernidade, mas que tresanda a erros do passado e, decididamente, já não serve.  

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