Isto mesmo!
O movimento ecológico universal pôs na agenda mundial a necessidade de substituir as energias baseadas em recursos esgotáveis por energias ditas renováveis. E fez muito bem.
Daí a pensar que está o assunto resolvido... não está.
É que ser renovável não quer dizer que seja: apropriado, adequado, dimensionado, pequeno mas belo, ecologicamente integrado sem danos graves, sem perigos graves previsíveis, respeitando as condicionantes ecossistemáticas, os seres vivos afetados, a começar mas não a acabar nos seres humanos, a paisagem como valor produtivo mas também estético, e outras razoabilidades.
Mas se abstrairmos disso, como alguns de nós somos tentados a fazer, então venha o lítio (felizmente alguns perceberam a tempo a enormidade para Portugal da agressão que se programou a respeito dele), venha o abate de sobreiros para eólicas, venha a razia do solo para parques solares grandiosos ou menos grandiosos. Alguns até vão ao ponto de dizer: venha o nuclear (que nada tem de renovável).
As grandes barragens mundiais (as Três Gargantas mas muitas outras no Brasil, na Índia e muitas outras) já deram provas evidentes que na construção foram grandes agressões ao ambiente e muitas vezes às pessoas e aos povos. Ninguém hoje que tenha um mínimo de consciência ecológica coerente pode defender novas barragens desse tipo.
Mas Vilarinho das Furnas em Portugal, sem ser dessa escala, é um exemplo que foi criticado e denunciado salvo erro por Orlando Ribeiro e certamente pela escola etnográfica portuguesa (talvez Jorge Dias e outros).
Menos faladas embora claras para alguns são as consequências negativas de barragens em funcionamento. Este caso de hoje, chuva no deserto?, mostra que as consequências para os seres humanos podem ser de grande tragédia (no Público):
Inundações na Líbia: “Há corpos por todo o lado: no mar, nos vales e debaixo dos edifícios”
Soluções absolutas não há. No entanto, as pessoas normais como nós têm dificuldade em compreender onde estão as soluções que, não sendo absolutas, pelo menos menorizem a devastação. Parece necessário, contudo, ir além dos qualificativos de energias "renováveis", "descarbonizadas", "limpas", "verdes" e outros para abençoar este ou aquele empreendimento energético. A equação tem que ir mais longe.
No caso dos rios, já se verificou em alguns setores uma visão mais cautelosa e naturalista, e tem havido até desmontagens definitivas e programadas de algumas barragens. Esse é também um fator que tem que entrar na equação.
José Carlos Marques, envia-me este texto acima, que partilho por acordo. Faltou referir o crime, o maior crime ambiental deste século, em Portugal, Alqueva, a Aldeia da Luz e a destruição de milhares de hectares de montado, e hoje a degradação total dos solos, também com agricultura intensiva e destrutuva. Tudo isso é tema do livro, ora em conclusão.