Hoje sem mais
Já se tinha retirado, protegido das luzes da ribalta que não poupam nada nem ninguém em busca de uma palavra, de uma atitude, que possam dar título.Iamos tendo notícias suas pelo Fernando Pessoa grande amigo e sua visita regular e sabendo do seu estado. Quem privou com ele, o acarinhou e deu corpo ás suas ideias nunca esquecerá um ou outro momento, uma ou outra estória, que parecem todas chegar de rompante. Grandes alegrias e também momentos de dor. Quando já altas horas vimos um pin no ecran (estavamos no forum Picoas) o Gonçalo acabara de ser eleito vereador, tinhamos tirado a maioria absoluta ao Nuno Abecassis (que é certo a recuperou com os 3 vereadores do PS....) mas entrámos na C.M.L. onde as ideias do Movimento Alfacinha ganhariam alguma cidadania. E logo em 1986 uma capital da Europa aprovava 3 moções contra a nuclear e pelo encerramento de Almaraz e o Gonçalo, com artes mágicas fez aprovar (não que Abecassis lhe ligasse) a ligação Alto do Parque Monsanto, que ficaria a marinar muito tempo...se fez/fizemos com que se falasse de hortas sociais e de recolha selectiva de resíduos, se falasse de novas energias e articulações dos espaços verdes e jardins da cidade. Pela 1ª vez, julgo que mesmo a nível mundial, em órgão executivo.
Ou no Parlamento, 1º no grupo da Aliança depois com o P.S. projectos e propostas, requerimentos e muitas questões... e na secretaria de Estado e no Ministério, e na Universidade, e aqui e ali em colóquios, com ele sempre pronto a dar uma palavra, a tirar do chapéu uma nova ideia, a re-enquadrar as perguntas e dar a resposta certa.
Estive num almoço, julgo que dos 95 anos, estava feliz, via-se nos seus olhos a amizade e gratidão, também por nós compartida, com muita ternura.E senti-me nestes últimos dias, como já me havia sentido noutro almoço dos seus 80 anos, feliz por ver a dignidade que lhe outorgaram em vida e agora na sua morte. E triste, muito triste com a vileza, a hipocrisia, a falta de princípios de quem lhe dá tributo sem ligar, nenhuma, ao seu legado socio-político, ás suas ideias e sonhos que são pelo contrário olimpicamente desprezados por todos, quase todos, os governos e municípios, que só servem ilusão e retórica e são sim os continuadores de delapidação do nosso património, do nosso território e da sua continuidade.Seremos como um sobreiro a resistir.A resistir.