Mais uma
Sobre o aeroporto, OBRIGADO Luís S.
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O apeadeiro, terminal, aeroaborto, aeroportozinho ou lá como lhe queiram chamar, corre o risco de ficar conhecido cá dentro e também lá fora como o "coiso das mitigações" tantas elas são. Aliás não há um único descritor, dos que foram estudados, analisados e apresentados no EIA encomendado por conta e medida pela ANA/vinci, que não seja sujeito a medidas de mitigação, deve ser moda.
Uma das principais estruturas de um aeroporto é a pista ou pistas, caminhos de circulação (taxiways) e Sistema de Luzes de Aproximação. No tal "coiso das mitigações" que a vinci e o governo querem construir nos terrenos da BA6 a pista que estão a planear usar é a 01/19. Esta pista tem actualmente 2.187 mt de comprimento entre cabeceiras e um PCN de 52. Actualmente as boas práticas em matéria de construção de aeroportos novos, como é o caso, recomendam pistas com comprimentos mínimos de 3.000 mt e um PCN superior a 60. Na península de Montijo não há espaço para tal e aqui começam as mitigações. Para ser operacionalmente viável para aviões de categoria C (B 737 e Airbus 320), única categoria de aeronaves que poderão utilizar o aeroporto e ainda assim com limitações, a pista teria de ser aumentada até aos 2.500 mt e isso implicaria a construção de um aterro de cerca de 400 mt, para Sul, numa zona de lamas profundas e de sapal e a instalação de luzes de aproximação com um comprimento de 900 mt que se extenderiam até ao canal de navegação do Montijo criando problemas á passagem de barcos. A vinci decidiu fazer um aterro de apenas 300 mt para Sul e não instalar as luzes de aproximação na extensão recomendada para uma pista de instrumentos e fazer uma extensão para Norte numa duna de areia que faz parte do dique de contenção de cheias da península. Com este expediente a pista ficará com um comprimento total de 2.460 mt e as luzes de aproximação com um comprimento de 420 mt típico de uma pista de aproximação visual ou de não-precisão e que serão instaladas sobre a pista. Este arranjo obriga a que se desloquem ambas as cabeceiras da pista, 350 mt para o seu interior, ficando o comprimento da pista entre cabeceiras em 1.760 mt, se a este valor acrescentarmos 290 mt do deslocamento da cabeceira do lado contrário obtemos um comprimento de pista para aterragem (LDA) de 2.050mt, no entanto numa aproximação e aterragem por instrumentos o avião tocará na pista cerca de 300 mt para lá da cabeceira o que reduz a distância útil disponível para aterragem para um valor próximo de 1.750 mt, manifestamente pouco em determinadas condições de peso da aeronave, ventos cruzados, turbulência e contaminação da pista, não sendo de estranhar se a aberração fôr avante, a ocorrência de saídas de pista (runway overrun) e mergulhos no rio Tejo.
O comprimento de pista para TORA, TODA e ASDA será de 2.400 mt.
LDA - Landing distance available (comprimento de pista disponível para aterragem).
TORA - Takeoff Runway Available (comprimento de pista disponível para descolagem).
TODA - Takeoff Distance Available (ASDA + Clearway)
ASDA - Accelerate Stop Distance Available (comprimento de pista disponível para parar o avião no caso de uma falha de motor á velocidade de decisão).
Outra "asneira" que está planeada é o afunilamento do caminho de circulação (taxiway) paralelo á pista, junto á cabeceira da pista 01. Para além de ser um erro de palmatória em termos de engenharia de aeródromos tem implicações graves em termos operacionais e de segurança. Ninguém no seu perfeito juízo, em parte alguma da terra, constrói um aeroporto de raíz com este tipo de constragimentos.
Ao insistirem em construir um aeroporto num local sem condições de espaço para tal e numa zona de alta densidade habitacional, localizado num estuário que além de protegido, constituí uma das mais importantes zonas húmidas da europa e um santuário de passagem, alimentação e nidificação de milhares de aves marinhas de várias espécies, muitas delas com estatuto de espécies protegidas e que cruzam diariamente o mesmo espaço aéreo que será utilizado pelos aviões, apresentando um risco elevado de colisões, "bird strike".
Pelo atrás descrito podemos constatar que se está a mitigar o arranjo da pista e sua utilização operacional, caminhos de circulação e ajudas visuais á aproximação e aterragem. Ao assim proceder entramos no campo das mitigações de segurança aeronáutica e se á coisa que em aviação não se mitiga é exactamente a "SEGURANÇA".
Quer-me parecer que a montanha pariu um rato, e assim vamos de mitigação em mitigação até à asneira final...
Vítor dos Jactos
Piloto de Linha Aérea
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