+ sobre a fusão
Fusão Nuclear e o recente resultado do LLNL (USA) (Ignition Fusion)
Há poucos dias, com muito entusiasmo, tivemos o anuncio de que se tinha alcançado (Fusion Ignition-LLNL) um resultado que iria , finalmente , trazer-nos energia electrica ilimitada, limpa e barata.
O resultado foi muito interessante do ponto de vista da Física, mas sem qualquer impacte visível na capacidade de produção da dita energia limpa e barata.
É verdade que se conseguiu, finalmente, um processo de fusão em que a energia aportada pelos lasers responsáveis pelo confinamento do plasma de átomos de isótopos de hidrogénio e sujeitos à sua fusão em átomos de hélio com libertação de energia, se verificou ter um balanço positivo, isto é houve mais energia no output do que no input. Os números referidos foram de 2MJ no input para 3 MJ no output, um ganho de um factor 1,5. Extraordinário, sim! Até agora esta relação tem sido inferior a 1. Mas esta não é a realidade toda. Ela omite a energia que foi necessária para fazer funcionar os lasers: pelo menos 300MJ. Isto é, o balanço total continua a ser muito inferior a 1, ou seja 0,1!!!
A notícia serviu apenas, a meu ver, para ajudar o Congresso Americano a dar um parecer favorável sobre os muitos milhões que são necessários para continuar a financiar o LLNL. Infelizmente a noticia correu o mundo e contribuiu para gerar falsas expectativas! Basicamente os nossos media são muito ignorantes e preguiçosos, e, às vezes, estão mesmo manipulados!
Se tudo correr bem, talvez daqui a 30 anos se possa dar uma notícia de verdadeiro “breakeven” com consequências praticas. Necessitamos de pelo menos um factor 3 para o “breakeven”, já que produzir electricidade por via térmica tem um rendimento baixo, tipicamente da ordem de 0.3 a 0.4. Mas esse “breakeven” não chega, necessitamos de o multiplicar pelo menos por um factor 10, para poder dizer que temos uma energia limpa, já que a electricidade que estará na base do processo, se tiver uma origem fóssil , tem de estar presente em quantidades muito diminutas.
Depois, claro, há que saber se conseguiremos fazer tudo isto a baixo custo, o que está verdadeiramente por demonstrar. Entretanto temos, felizmente, as Energias Renováveis, limpas, de baixo custo, e presentes em todo o lado, no mundo habitado de hoje. Uma enorme diferença!
Manuel Collares Pereira